“Como empreendedor, sei que o e-sports está só no começo e fico muito contente de fazer parte disso”

 

 

“Como empreendedor, sei que o e-sports está só no começo e fico muito contente de fazer parte disso”

– 12 de outubro de 2015
Gabriel Toledo, o FalleN, além de jogador tornou-se empreendedor de games online (foto: reprodução esport.aftonbladet)
Gabriel Toledo, o FalleN, além de jogador tornou-se empreendedor de games online (foto: reprodução esport.aftonbladet)

Quem foi criança ou adolescente nos anos 2000 deve se lembrar da febre de lan houses da década passada. Era como se a cada esquina houvesse uma, principalmente nos bairros das periferias, já que ter um desktop em casa ainda era um luxo distante para a maioria da população. Segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil, 52% dos brasileiros utilizavam esse tipo de estabelecimento em 2008. Os principais motivos eram o acesso à internet e aos games online, como Ragnarok, Tíbia e, principalmente, Counter-Strike.

Além de se tornar ponto de encontro e sociabilização para a maioria dos gamers da época, as lan houses estimularam o aparecimento de jogadores profissionais de Counter-Strike, que permitiram ao Brasil obter prestígio em todo o mundo ao ganharem dois campeonatos mundiais. Foi durante esse período que Gabriel Toledo, 24, o Fallen, começou a jogar, ainda adolescente, e a se destacar no cenário.

“De 2004 a 2009, eu jogava apenas por diversão. Na época, me preparava para prestar vestibular de engenharia, estudava e trabalhava. Então, em maio de 2009, recebi um convite para me juntar à equipe FireGamers, com grandes nomes do cenário de Counter-Strike. Foi então que decidi, com apoio da minha família, pausar meus estudos e me dedicar ao jogo”, conta.

Foi no início dessa década, com o declínio do número de jogadores e o envolvimento brasileiro nas competições cada vez menor, que a ideia da Games Academy surgiu, em 2011. “O projeto foi pensado para tentar manter o cenário em atividade. Ao criar campeonatos, fomos ganhando importância para a comunidade. Os jogadores perceberam que havia um projeto trabalhando para mantê-los na ativa”, conta o profissional, que hoje mora na cidade de Lancaster, nos Estados Unidos. Seu time, composto também por brasileiros, é patrocinado e mantido pela Luminosity Gaming, uma organização profissional de e-sports (eletronic sports, ou jogos eletrônicos).

A Games Academy (GA) é um clube no qual o associado tem acesso a aulas de jogos competitivos e pode participar de campeonatos promovidos pela própria organização. O modelo de negócio é a cobrança de uma mensalidade — de 30 reais — que dá acesso a conteúdo em vídeo e, em horários específicos, à possibilidade de tirar as dúvidas com os professores sobre a matéria desejada (games, no caso). Além disso, o associado tem contato com pessoas com os mesmos interesses e objetivos, o que fomenta o surgimento de novas equipes profissionais e, consequentemente, aquece o panorama brasileiro. A Games Academy possui atualmente 1 500 membros. Gabriel comenta a respeito:

“O principal objetivo da Games Academy é fazer com que a comunidade se desenvolva em todos os âmbitos, primeiro no conhecimento individual dos jogadores, depois, na criação de novos times e competições”

Um exemplo de como isso funciona é o campeonato GA Lan Cup, disputado no final de setembro em que, além dos times que disputam pela GA, teve a presença de três equipes profissionais da Argentina. “Esse foi o maior campeonato em termos de premiação da história do Counter Strike no Brasil, com prêmio de 25 mil reais, mais produtos”, conta o empreendedor. Além do campeonato GA Lan Cup, acontecem os campeonatos mensais Liga GA, o semanal Best of the Week, e o Dominguera, que acontece todos os domingos.

Torneio organizado pela Games Academy para escolher o ganhador do Golden Chance

Torneio organizado pela Games Academy para escolher o ganhador do Golden Chance

Se o investimento inicial para empreender na Games Academy foi mínimo, Gabriel precisou apenas colocar o site no ar e manter os servidores (o que conseguiu grande parte por meio de parcerias, sem necessidade de capital), o crescimento e visibilidade demandou investimentos maiores. “Estamos em uma fase que queremos nos profissionalizar ainda mais. Há dois meses, começamos a investir em programadores para criar um sistema Games Academy, com mais funções e facilidades. Por exemplo, depois da aula o aluno responderá a questionários para que possamos testar seus conhecimentos, além de podermos enviar conteúdo por email, automatizar as inscrições a torneios”, conta Fallen.

Ele prossegue, sobre os planos de expansão do serviço oferecido: “Mais do que isso, quero que os jogadores possam cruzar informações na hora de encontrar times: se determinada pessoa busca parceiros que tenham 80% de conhecimento em determinado mapa do jogo, ele vai poder filtrar na hora de escolher um companheiro de time. Poderemos mensurar o nível dos jogadores”, diz. Ele conta que os programadores estão se inspirando no projeto colaborativo Khan Academy, uma ONG educacional que ganhou fama mundial depois de ter sido recomendada por Bill Gates. “Estamos investindo pesadamente nisso para que até janeiro o novo sistema esteja rodando.”

Além dessa melhoria, a intenção é expandir para outros títulos e assim ter uma abrangência maior em outros jogos. “Queremos também ir para outras modalidades além do Counter-Strike. Isso vai envolver outros jogadores profissionais. Mas esse é um passo que daremos quando estivermos bem satisfeitos com a nova plataforma. Por enquanto, temos outra modalidade rodando em modo teste, que é o jogo Dota 2, no qual temos em torno de 100 associados. Por enquanto, ainda é pouco, mas sabemos que há espaço para esse crescimento”, afirma. A empresa ainda pretende expandir seus serviços para outras línguas, como o inglês.

COMO SUSTENTAR UMA ESCOLA DE GAMES ONLINE

Além da arrecadação dos membros, a GA conta com patrocínio de empresas de peso no mercado. A Razer, marca de tecnologia focada em games, além de dar incentivo para os torneios, é fornecedora de produtos para o e-commerce do portal da GA. O patrocínio mais recente é com a Azubu, empresa global de transmissão por streaming, que, além de incentivar alguns torneios, tornou possível um projeto ousado da Games Academy, chamado Golden Chance.

Os campeonatos de e-sports ocupam estádios e movimentam milhões de dólares (foto: Patrick Strack/ESL).

Os campeonatos de e-sports ocupam estádios e movimentam milhões de dólares (foto: Patrick Strack/ESL).

O projeto visou, por meio de um torneio, selecionar o melhor time em solo brasileiro para uma oportunidade inédita por aqui. Com o capital da GA e da Azubu, o NTC, time vencedor foi levado para os EUA, onde joga com a bandeira Games Academy e, assim, pode disputar campeonatos internacionais e treinar contra os melhores times do mundo, com subsídio desses patrocinadores. (Uma curiosidade técnica: devido a limitações dos servidores, games online só podem ser jogados em âmbito continental, ou seja, um time brasileiro só consegue jogar contra um dos EUA, por exemplo, se estiver em solo americano. Caso sejam disputados em continentes diferentes, os times podem ser prejudicados por conta de lentidão da rede. Por isso, alocar os times em outros países é crucial.)

O timing para o investimento neste segmento não poderia ser melhor, os últimos anos registraram números dignos de gigantes da indústria de entretenimento. Segundo o SuperData Research, o mercado de e-sports teve 612 milhões de dólares de receita apenas em 2015. O jogo League of Legends, um dos mais jogados do mundo, gerou 1 bilhão de dólares de lucros apenas este ano; o último The Internacional, campeonato mundial de Dota 2, distribuiu 18 milhões de dólares em premiação para as 16 equipes classificadas — 6 milhões apenas para o time vencedor.

“Como empreendedor, sei que e-sports está apenas no começo, é um mercado com muita força, e ficamos contentes de fazer parte dessa mudança. No Brasil, temos um cenário em que as coisas demoram mais para acontecer, demora para receber investimentos. E com a economia não muito boa, é aí que o sucesso do projeto se mostra. Mesmo com o momento difícil, estamos aqui fazendo campeonatos com premiações grandes, como foi o último. Isso mostra a força da comunidade, porque a GA é isso, é um projeto comunitário”, afirma Gabriel. “Cada membro tem que perceber o retorno, tem que sentir que o investimento é focado no cenário e em trazer experiências novas para os jogadores”, diz o jogador que se tornou empreendedor. Play!

DRAFT CARD

Draft Card Logo

  • Projeto: Games Academy
  • O que faz: Escola de games competitivos online
  • Sócio(s): Gabriel Toledo
  • Funcionários: 6
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2011
  • Investimento inicial: não houve
  • Faturamento: NI

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